16 de jan. de 2009

o homem sem romance #4

"ela fica deste modo, assim" - vira pra ele falando sem parar; faz um gesto, pontua, acende um cigarro, segura um tempão entre os dedos antes da primeira tragada.
" ela é sem amarras, nem de piscar os olhos na hora errada" - contando já sentado, as pernas cruzadas, fazendo a porra de uma pose exagerada.
"você nem imagina as oportunidades, e é totalmente seguro..." -procura o cinzeiro sem lhe tirar os olhos, mira nas pernas muito musculosas do outro, despidas.
" é tudo uma grande encenação, mas pode ser muito excitante..." - coça o cavanhaque bem desenhado enquanto suga e prepara mais uma baforada.


o sujeito ali do outro lado, desenhando cifras até pela paredes, se convence que realmente tudo aquilo é uma merda e que não precisava mais uma vez daquele bosta em sua frente, não precisava ser assim, precisava fazer algo, fazer algo com aquilo que carregava entre as pernas, fazer aquele puto calar a boca, calar a vida aos solavancos, calar as contas, o cartão de crédito, a santa tatuada nas costas.

outro atende o celular - " ela está aí "

seu estômago doeu.
o intestino era muito frágil, nem café tomava mais, nem destilado, só água e
às vezes, as avessas.

ouviram ao longe o relincho.

num caminhão médio, uma égua havia chegado pelos portões do sítio.



Um comentário:

Laura Bourdiel disse...

você não vai acreditar... para mim esse foi um dos textos mais intrigantes que você já escreveu. :o0
Posso estar me sentindo burra... ou está explícito demais ou não sei.. ahh... não sei...
depois me explica! huaauahauaha

¡besitos!

proje(c)to

etc.