30 de out. de 2009

Lígia

Ela viria, de fato, com as costas cheias e um mundo sonoro de intenções transparentes.
Eu jamais faria uso novamente de entorpecentes pra sentir vivo o que já nasceu morto aqui dentro.
Ambos veríamos o fim solitário permear nossas nucas, soprar em nossos ouvidos, arrepiar toda a extensão de nossas colunas.
A fumaça que saía constantemente de sua boca atingiu mais os meus alveólos pulmonares do que qualquer outro.
Beliscando novos plays pra ter mais post, hard, heavy, folk-rock, ainda assim eu sabia que me aguardavam uma série de acontecimentos venenosos; e, quem sabe, proveitosamente, não daria curso em mais nada que não fosse o escrever como fuga.
Eu era em toda parte o forasteiro, carregava a face do ordinário, as membranas de todos os homens - e todos esses eram eu também.
Olhava o cansaço pelos olhos daqueles coitados em pé no trem, e mesmo tendo menos contas mensais pra pagar e ainda nenhum filho, éramos todos irmãos celebrando com o máximo de nossos corpos uma lenta volta pra casa.
Já não teria mais Cartola no almoço de domingo.
Em toda parte, transbordaria daquela infelicidade terrena com meus irmãos, assando mais carne, brigando pela derrota imbecil do mesmo time.
Faltando terreno pra emoções maiores, saberia de antemão que era um fim ridículo, mas o melhor fim que meus músculos suportariam.
E boa parte desse trâmite eu descobrira dois segundos antes de a beijar.






25 de out. de 2009

Frederico

Não havia paradeiro. Não caberia só ao peito, abrir-se ao mundo. Um mundo de razões especiais fez óbvio o caminho que escolhia traçar agora. Apesar de em toda parte do tempo só tenha sentido que o caminho a tenha escolhido. Não gostava de meter-se em assuntos que não lhe diziam nada a mais; como anda a vida do outro, o que esse faz, se não faz, o que come, e por aí vai. A reunião de minutos que se acumulavam feito bônus, traziam colorido ao cinzento céu que discursava tanto em desenhar pelas andanças. E Frederico era especialmente a sina que delimitava suas maiores dúvidas e as maiores contemplações; desses percalços que nos fazem perder o ar, em que desacraditamos nos que os olhos insistem transmitir. Fôra toda culpa dele, em demasiado, o folk que tocava quase ao seu ouvido. E via as estradas, e os veículos abandonados; às vezes um belo deserto, ou uma varanda num fim de tarde ensolarado. Queria vingar a enorme nostalgia afiada entre os seios. Contudo, o jeito pra vida, em boa parte, ainda era o sonho, incontrolável e irreparável.



proje(c)to

etc.