- deixa eu te falar da casa grande, do sofá que ficou, das ranhuras nas mobílias, aventuras e ponto finais, sobre cirurgias intermináveis, doenças de fácil contágio, efeitos dos entorpercentes nas minhas palavras, dos pensamentos que tenho nas viagens curtas e longas, loucuras e merdas que relembramos, saudades doídas no peito, nas sensações indefinidas, incestuosas, destinos não-calculados, deus, santos, promessas, sony, veias grossas dos braços dos velhos, metrô, o jornal daqui, o jornal de lá, o mais vendido, o suspensório daqueles meninos novos cheirando xampu que não arde os olhos, canções folk, conversas na tua cozinha, palavras-cruzadas, mind games, café, chá preto, torradas, laranja, o efeito bicolor dos cabelos, a minha enorme predisposição em falar, falar, falar e depois calar, mentir, inventar, cuspir as ordens, promessas, sem chaves, bandeiras, milagres, sentimentos de culpa, sem culpa, sem modéstia, sem pesar as palavras, segurar o pranto, avisar que o inferno já foi fodido, que não tinha jeito pra vida, nem pra morte, que vivemos uma perseguição vã, destrutiva, que não adianta calar os ventiladores, interruptores, cartões de crédito, o mundo só gira mais rápido e não é adequado pensar demais, o melhor era soltar, soltar, soltar, antes de ver que essa casa é grande demais, que eu sinto o fio da solidão nos pés gelados sem meia, sem um jeito melhor pra contar que sigo acendendo um rastilho de pólvora, que eu não quero explodir sem uma mão colada aqui na minha testa suada de todas essas febres...
(Um Joaquim/Fernando/Solano/Tavares sentado numa cadeira, meio arqueado, arfando, grunhindo, mordiscando as últimas palavras que lhe sobraram. Molho de chaves na mão. Chaves do carro. Chevette branco. Bem usado e gasto. Não menos que o dono.)
6 de jan. de 2009
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4 comentários:
Deixa eu te falar...
...sem palavras.
Um mundo em um trecho. Lindo.
Beijos
Um universo descontituído em uma frase.
esse velho homem sem romance.
eu tinha saudades dele.
muito bons esses.
vc É mal
e tnho dito
sah
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