30 de out. de 2009

Lígia

Ela viria, de fato, com as costas cheias e um mundo sonoro de intenções transparentes.
Eu jamais faria uso novamente de entorpecentes pra sentir vivo o que já nasceu morto aqui dentro.
Ambos veríamos o fim solitário permear nossas nucas, soprar em nossos ouvidos, arrepiar toda a extensão de nossas colunas.
A fumaça que saía constantemente de sua boca atingiu mais os meus alveólos pulmonares do que qualquer outro.
Beliscando novos plays pra ter mais post, hard, heavy, folk-rock, ainda assim eu sabia que me aguardavam uma série de acontecimentos venenosos; e, quem sabe, proveitosamente, não daria curso em mais nada que não fosse o escrever como fuga.
Eu era em toda parte o forasteiro, carregava a face do ordinário, as membranas de todos os homens - e todos esses eram eu também.
Olhava o cansaço pelos olhos daqueles coitados em pé no trem, e mesmo tendo menos contas mensais pra pagar e ainda nenhum filho, éramos todos irmãos celebrando com o máximo de nossos corpos uma lenta volta pra casa.
Já não teria mais Cartola no almoço de domingo.
Em toda parte, transbordaria daquela infelicidade terrena com meus irmãos, assando mais carne, brigando pela derrota imbecil do mesmo time.
Faltando terreno pra emoções maiores, saberia de antemão que era um fim ridículo, mas o melhor fim que meus músculos suportariam.
E boa parte desse trâmite eu descobrira dois segundos antes de a beijar.






4 comentários:

Anônimo disse...

Eu gosto de "trâmite".

Anônimo disse...

"Lígia" lembra o Chico.

Alice F. disse...

é de sorte, e nada mais.

Quél disse...

"Tem uma parcela emocional de culpa em um momento crucial".

proje(c)to

etc.