17 de mar. de 2009

o homem sem romance #9

Quando acordou sabia que ia morrer em instantes.
Não veria anjo salvador, não sobrariam cálculos para solucionar, e as louças e roupas carregadas de ócio e pó, fariam volume pelos dias que repassava mentalmente.
Seu suor escorrendo pela testa chegava ao colchão colado ao corpo, tudo um só corpo que emitia ondas espessas de um verão que teimava findar.

Contudo, quis imaginar o melhor verão de sua juventude, o frescor das roupas que gostava de vestir, as tardes longas de conversas com a mãe e a fumaça dos bolos de laranja, e café, os sorrisos dos amigos quando lhe fintavam por entre as pernas e marcavam gols, o calor úmido dos beijos das meninas nas festinhas, nos colégios, a troca de olhares gratuita, o queimar do rosto, da vergonha, do mundo interno inteiro em brasas.

Pequenos cortes de um filme sendo reprisados, nos últimos minutos seus que ainda lhe guardavam a vida.



2 comentários:

Alice F. disse...

é Ygor...




(...)
... complicado por aqui, viu.

l u a * disse...

quando o mundo deixar de ser injusto, todos os dias serão ensolaradas manhãs de domingo, todo mundo meio junto, meio de pijama, tomando café nas canecas, assim é que vai ser.

nesse tempo, botaremos em película essa groselha aqui, porque ela morde bem fundo na minha alma, tá, seu puto?

proje(c)to

etc.