26 de mar. de 2009

parênteses

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros." - caio f.



17 de mar. de 2009

o homem sem romance #9

Quando acordou sabia que ia morrer em instantes.
Não veria anjo salvador, não sobrariam cálculos para solucionar, e as louças e roupas carregadas de ócio e pó, fariam volume pelos dias que repassava mentalmente.
Seu suor escorrendo pela testa chegava ao colchão colado ao corpo, tudo um só corpo que emitia ondas espessas de um verão que teimava findar.

Contudo, quis imaginar o melhor verão de sua juventude, o frescor das roupas que gostava de vestir, as tardes longas de conversas com a mãe e a fumaça dos bolos de laranja, e café, os sorrisos dos amigos quando lhe fintavam por entre as pernas e marcavam gols, o calor úmido dos beijos das meninas nas festinhas, nos colégios, a troca de olhares gratuita, o queimar do rosto, da vergonha, do mundo interno inteiro em brasas.

Pequenos cortes de um filme sendo reprisados, nos últimos minutos seus que ainda lhe guardavam a vida.



10 de mar. de 2009

o homem sem romance #8

Criou um login com nome de mulher.
Às quase quatro da manhã, declarou-se disposto a sexo casual + malabarismos de veterana naquele fórum costumeiro.
Enquanto o filho largava a cama pelo colégio, fingia gemidos e cumplicidades em salas de bate-papo.
Já no café da manhã, contava a mulher a dificuldade de expressar em muitas linhas sua tese sobre a existência do genocídio armênio; enfim, perdera toda a madrugada na labuta.
Seus óculos, meio tortos, teimavam em refletir a claridade intensa invadindo a cozinha, os pães e as tortas.
O ponteiro do relógio de parede ansiava o calor de pilhas novas.
Os farelos, em grandes fileiras pelo chão, cantavam risonhamente uma felicidade estranha.
Se pudessem usá-la em palavras, diriam que tudo o que não se sabe ainda, é melhor que o remédio alucinante que carregavam em essência.


proje(c)to

etc.